Quando no decurso dos acontecimentos, um grupo se vê na necessidade de rechaçar atitudes impróprias dentro do espaço de valores e práticas que o formou e sente a carência de um documento que sirva de base para reconhecer aqueles que estão, de fato, comprometidos com a causa comum do grupo, é imperativo explicitar as causas que o levaram a essa atitude. Assim, o objetivo dessa carta de repúdio é esclarecer à sociedade os motivos pelos quais não reconhecemos o “Coletivo Jovem Intelectual” enquanto Coletivo Jovem (CJ).
Para que nosso intento seja realizado, explicaremos inicialmente a gênese e objetivos do movimento a nível nacional, até os desdobramentos na cidade de Juína-MT que nos levaram a tomar a atitude de repúdio.
Os Coletivos Jovens de Meio Ambiente surgiram em 2003 em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, para colaborarem na organização e realização da I Conferência Nacional Infanto Juvenil pelo Meio Ambiente (I CNIJMA). Desde então os CJs continuaram a ajudar nos desdobramentos e organização de novas conferências, mas, além disso, têm atuado em inúmeras frentes de Educação Ambiental (EA), enquanto jovens que acreditam e lutam pela transformação de suas realidades junto à sociedade.
Todos os CJs atuam de forma informal e voluntária, no formato de redes, através de três princípios; Jovem Educa Jovem; Jovem Escolhe Jovem e Uma Geração Aprende com a Outra, pela temática socioambiental, pois reconhecemos ambiente e sociedade de forma interligada, o que orienta as nossas ações em EA. Dessa forma, a participação em um CJ ou a criação de um novo grupo deve ocorrer através da concordância e respeito a nossa identidade enquanto um movimento nacional.
Os Coletivos Jovens de Meio Ambiente de Mato Grosso são sitiados em diversos municípios,
cada qual com identidade e atuação próprias, porém unidos numa identidade que transcende os limites geográficos das cidades que os abrigam, formando um movimento socioambiental de juventude a nível estadual. O CJ Juína surgiu em outubro de 2007, após o contato de um grupo de jovens com os ideais do CJ. Apenas duas semanas após ter surgido, esse CJ foi procurado pela AAAV para formar uma parceria. Tal parceria funcionou até que divergências levaram os dois grupos a se separar e a AAAV fundou então o seu “grupo intelectual”.
O estopim para tal atitude se deu em torno de uma problemática sobre uma Área de Preservação Permanente (APP) que abriga pessoas em condições de vulnerabilidade socioeconômica. O CJ Juína acreditava na necessidade de articular junto ao poder público soluções com foco tanto nos princípios ambientais quanto sociais, enquanto as pessoas que vieram a fundar “o grupo intelectual” acreditavam que as pessoas na área de APP eram invasoras que precisavam simplesmente ser retiradas. A partir de então, devido às posições ideológicas claramente divergentes os dois grupos passaram a atuar separadamente, mas ocupando os mesmos espaços em Juína.
A criação do “grupo intelectual” causou repercussão aos outros CJs de MT, cuja denominação Intelectual foi considerada estranha e até mesmo ofensiva ao nosso princípio de Jovem educa Jovem, baseado na idéia de horizontalidade que não reconhece superior ou inferior, mas pessoas com diferentes saberes. Com o tempo descobrimos que não seria apenas o adjetivo Intelectual que nos seria estranho, mas também a postura desse grupo, que vieram a ferir o princípio de Jovem escolhe Jovem. Isso ocorreu quando dificultaram a participação do CJ-Juína no I Encontro e Protocolo de Juventude da Região Noroeste de Mato Grosso, em março de 2009 e utilizaram o nome do Coletivo Jovem de Fontanillas como comissão organizadora, sendo que estes, só foram chamados para discutir uma semana antes da realização do evento.
Além disso, o CJ é um grupo formado por diferentes atores e não deve ser instrumento de apropriação e manipulação por instituições como ONGs, associações, universidades, dentre outros. Cabe ressaltar que a sociedade coletiva é representada de forma autônoma por pessoa física, sendo esse o aspecto legal e constituinte no Código Civil, previsto nos artigos 1039 a 1044, onde o artigo 1.039 dispõe que “Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais”.
Portanto:
1. O Grupo que se auto intitula como “Coletivo Jovem Intelectual” atua com objetivos estritamente preservacionistas, ignorando as questões sociais interligadas – como no contexto das Áreas de Preservação Permanente – divergindo dos princípios e valores dos CJsMT;
2. O dito grupo “intelectual” embora se denomine COLETIVO, atua de maneira isolada, excluindo grupos já estabelecidos, em nítido desrespeito a construção histórica.
Dessa forma, não reconhecemos esse grupo que se auto-intitula “CJIMA” enquanto CJ por não agir de acordo com nossos princípios e tampouco pela temática socioambiental. Há várias formas de se compreender e atuar pelo meio ambiente, mas COLETIVO JOVEM, não é apenas um nome, e sim a representação de ideais dos quais o grupo da AAAV desde o princípio divergiu, e cujas atitudes chegaram ao ponto de se fazer necessária a nossa manifestação de repúdio. Procedemos dessa forma porque acreditamos que sem valores básicos, a nossa atuação enquanto CJ se evanescerá no território da irresponsabilidade e da má fé.
COLETIVO JOVEM DE MEIO AMBIENTE DE CUIABÁ
COLETIVO JOVEM DE MEIO AMBIENTE DE JUINA
COLETIVO JOVEM DE MEIO AMBIENTE DE VÁRZEA GRANDE
Mato Grosso, 25 de junho de 2010
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